Coisas da Coreia: DMZ (Zona Desmilitarizada)

Fui visitar a fronteira com a Coreia do Norte!


Esse post tem muitas fotos, acho que mesmo que eu fale - fale muito -  eu não vou conseguir expressar da forma que as imagens fazem.

Contextualizando
Hoje em dia a penísula coreana é dividida entre Norte (ditadura comunista) e Sul (capitalista), mas nem sempre foi assim. A Coreia já foi um país único, até durante a invasão japonesa, quando os líderes coreanos foram destituidos do poder pelo Japão. A intervenção dos EUA e da URSS foi solicitada, e após a retirada dos japoneses, acabou criando-se 2 governos de ideologias diferentes num mesmo país. E obviamente, deu errado. Até hoje o Norte e o Sul estão em guerra (não em estado de guerra ou lei marcial, só não fizeram as pazes ainda), mas devido ao armistício assinado as pessoas podem viver dia após dia como se não houvesse nada errado. Todo ano, mais ou menos em abril~maio a Coreia do Norte faz ceninha e aparece na mídia internacional. As pessoas aqui já acostumaram com isso e vêem como forma de reafirmar o poderio da liderança de lá. Até hoje se fala de espionagem e a inteligência sul coreana continua trabalhando em prol da segurança nacional (pelo menos é isso que se vê nas propagandas).


Imjingang (임진강)
Na verdade, a fronteira inteira é da largura do país (duh), então eu só visitei a parte mais próxima de onde eu moro (e mesmo assim não é pertinho, são 52Km até lá!). Levei + ou - 1h10 pra chegar em Imjingang de trem. Imjimgang é a última estação que podemos ir nessa região, sem necessidade de permissão especial (a última estação é Dorasan e é na verdade um elefante branco porque civis só podem ir lá de ônibus turístico).

Achei curioso que nessa estação há uma placa indicando que o destino final dessa linha é Pyeongyang (평양), capital capital da Coreia do Norte. Perguntei a um coreano e a linha ferroviária é realmente conectada, mas não é permitido trafegar por ela. Ela foi construída como parte da política de reunificação da penísula coreana. Eu acho que tem mais cara de propaganda. E claro, interesses econômicos.

Se o Norte se abrir, será possível ir de trem até o Reino Unido. É o tipo de loucura que eu faria. O mapa abaixo está na estação de Dorasan, dentro da zona militar, e mostra como a Coreia se conectaria à malha ferroviaria da Europa, através dos trens chineses e do trans-siberiano na Rússia.


Imjingak (임진각)

Nos arredores de Imjingang, há um parque próximo ao Rio com algumas estátuas de pedra. Tem um sino gigante, chamado de sino da paz, mas não estava aberto para 'badaladas'. Um mirante, chamado de Imjingak, com vista panorâmica da área permite que os turistas vejam a cadeia de montanhas que divide as Coreias, um Bunker e a Ponte sobre o Rio Imjin, que é o separador natural dos países. Desse mirante, é possível ver bandeiras da Coreia do Sul - chamadas Taegeukgi (태극기) - demarcando o território do Sul.


A história dessa ponte é interessante. Por ela passa a estrada de ferro que liga à Pyeongyang. Essa ponte é relativamente nova. Ao lado dela, na foto acima, é possível ver os pilares da ponte que existiu outrora ligando as Coreias. Na direção de onde ficava a antiga ponte, estão os restolhos semi-restaurados de uma locomotiva que utilizava-se na época e que foi encontrada nas operações de limpeza pós-guerra, agora protegida por uma marquise que simula uma plataforma de trem e trás à memória dos mais velhos os tempos de paz e união. Essa ponte era o único meio de acesso entre as margens norte e sul do rio. Durante a guerra, ela foi destruída para impedir o avanço dos nortenhos sobre o território sulista. Não adiantou muito, pois a chegada do inverno congela os rios na Coreia.


Próximo à ponte, as grades de proteção se tornaram suporte de mensagens com pedidos de paz e apoio à união das nações. Me lembrou as fitinhas coloridas da Bahia, só que com uma carga muito mais pesada.

DMZ
Pra entrar na zona desmilitarizada propriamente dita, não tem muita opção: ou você é um soldado coreano no exercício da função, ou você é um coreano que trabalha nas fazendas e instalações turísticas de lá, ou você compra um pacote de excursão. Apesar de detestar excursões, não tinha pra onde fugir. Mas valeu a pena. O tour me levou ao 3° túnel, a um observatório militar e à estação de Dorasan (que eu já falei a respeito).

3° Túnel: O exército sul-coreano encontrou vários túneis escavados pela Coreia do Norte na tentativa de abrir caminho para uma possível invasão à Seul. O último foi descoberto em 1990. Aos meus olhos, a idéia parece mais com se jogar na boca de lobos, já que o túnel que visitei era tão apertado que passar 2 soldados emparelhados seria uma tarefa difícil. Infelizmente não era permitido tirar fotos lá dentro, mas foi um dos pontos altos do passeio. O 3°Túnel tem mais de 1,5 Km de comprimento, vai até a Coreia do Norte, mas apenas 270 m são abertos à visitação. Ele foi descoberto por causa do comportamento da água no solo na região. O acesso ao túnel é feito com um 'trenzinho' mas estava num grupo de tour, então não dava tempo de ir o caminho inteiro a pé (apesar de ser possível). São 300 m de descida + 300 m de subida pra sair depois, num espaço estreito (~2m de largura) e super inclinado. O túnel propriamente dito é visitado a pé, e é bem curta a extensão do local que podemos ir. Por dentro ele é todo de granito e tem água minando das paredes e teto. A Coreia do Norte pintava as paredes com carvão para disfarçar e justificar o túnel dizendo que estavam procurando um veio de carvão mineral. Além disso, o túnel é muito baixo (tenho menos de 1,60 e em uma parte eu precisava me abaixar pra não bater a cabeça) e isso gerou a expeculação de que quem escavou o túnel foram pessoas de estatura baixa - ou crianças.

Observatório Dora: Esse é o único local em Imjingang de onde é realmente possível VER a Coreia do Norte. Mas o que vemos é Kaesong, um distrito industrial especial, construído por uma empresa sul-coreana e que fornece emprego aos norte-coreanos. Parecia mais uma cidade fantasma, nem com os binóculos disponíveis não consegui encontrar ninguém das ruas, nem veículos (carro, ônibus, bicicleta, moto, cavalo, trem, etc) passando. Mas havia fumaça saindo de uma das chaminés das fábricas - sinal de que alguém estava lá. Quem se lembra da indústria que os operários foram impedidos de acessar durante a tensão de 2013?? É essa. Meu achismo: as duas Coreias juntaram o útil ao agradável - propaganda e dinheiro pra todo lado, e tchãns! Eis um complexo industrial com tecnologia de ponta construído. Havia algumas restrições para fotografar o local, o que meu amigo conseguiu com as lentes potentes dele foi isso:
Foto da Coreia do Norte, por Marco Bernardi.

Espero que vocês tenham gostado do relato e se possível, visitem a área!

É um passeio gostoso, mas o peso da história de guerra está lá o tempo inteiro. E por mais que se tente compreender, só quem passou por isso entende. O máximo que consigo é servir de ombro amigo aos colegas coreanos militares, pois nunca vou entender como eles se sentem de verdade sobre isso tudo.





Comments

  1. Nossa, que bacana o seu passeio!! A história é triste, e como vc disse: não tem nem como imaginar pelo o que eles passaram com a guerra.

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  2. é triste saber que essa separa çao das coreias mas deve ser lugar muito bonito queria um dia tbm ir para coreia.
    kissus You Like?

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  3. Nossa! Seria muito bacana se a Coreia se abrisse pra gente ir de trem! Tenho certeza que baratearia muitas passagens aéreas também de tanto que as pessoas usariam os trens!

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